Lembranças da quarta série
HOJE, ENQUANTO CHEGAVA AO ESCRITÓRIO, senti o sol no meu rosto e fiquei feliz. Foi uma daquelas felicidades que a gente sente com as pequenas coisas da natureza (algo tão distante da nossa rotina nessas cidades de concreto). Quase agradeci por aquele quentinho estar ali por mim. Quase.
- Vocês sabem por que uma árvore dá frutos?
E eu, a sabe-tudo da turma já estava com a resposta pronta, quando aquela que viria a ser minha mentora nos próximos anos se adiantou:
- Não, não é para produzir alimento para vocês.
“Como não?”, eu pensei. “Tia Lu – sim, nos idos dos anos 80, a gente ainda chamava as professoras de tia na cidade em que eu morava – deve estar tentando enganar a gente”. Não podia ser verdade.
- É para que suas sementes tenham mais chances de nascer e se transformar em outra árvore. Esse é o objetivo de todo ser vivo...
Eu nem escutei mais nada. Que ciclo da vida o quê? Como assim eu não era o centro do universo? Como assim os frutos não eram dádivas divinas para nós, os filhos de Deus? Depois daquele dia eu nunca mais seria a mesma. Minha adolescência intelectual começou ali.
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