Coisas que só acontecem comigo

Fala sério, não existem situações tão esdrúxulas que você pensa
: É preciso uma pessoa exótica para combinar com esse tipo de acontecimento?

Pois me peguei imaginando que a minha epopéia "ficar trancada para o lado de fora de casa" só poderia ter acontecido comigo.

Nos tempos em que morava em república fiquei notadamente conhecida no chaveiro ali da Alfonso Bovero com Aimberê por pedir uma cópia da chave de casa por semana... Eu perdia sempre. Toda semana. Eu sei. Pura distração com uma pitada de inconseqüência (para não me rotular a mim mesma de irresponsável).

Quando saímos (eu e os outros 5 manos) daquele apê, os meninos brincavam que "São Paulo inteira tem a chave da nossa casa, ainda bem que não sabe onde a gente mora". Na nossa segunda morada - outro apê - a galera estava escaldada. em vez de me proibirem de ter uma chave, passamos a deixar a porta aberta. Até o dia em que um dos nossos agregados deixou nós todos para fora, trancados.

Dias depois, o André - o tal agregado trancador de portas - comentou: "vocês são loucos? vim aqui outro dia, subi e a porta estava aberta". Sorrisos amarelos - pela falta de coragem de dizer que tínhamos ficado para fora até o Caio (acho que era ele) voltar com a chave dele e também porque a galera tem no DNA muitos genes nipônicos.

Depois disso tudo, eu achei ter aprendido a lição. Mais uma vez, a engenhericidade do Rogério trouxe um procedimento mais adequado à nossa prática. Pegamos uma cópia de chave, colocamos um chaveiro (do Mickey) enorme e ficava sempre na portaria.

Nunca mais carreguei chaves comigo. Ufa!

Ufa - o cacete! Anos, mais de dez anos depois, isso volta a acontecer.

Hoje, dez anos mais velha, dois filhos e um casamento terminado no currículo, eu voltei a carregar a chave de casa comigo nos finais de semana em que as crianças estão com o pai.

E aconteceu de novo.

Saio de um serão de sábado na redação, marco uma balada inocente no Milo Garage. Deixo a bolsa no carro da Ju - que gentilmente deixou a mim e a Mimi na frente do inferninho. Vamos para a fila. Já era meia-noite. Tempo estimado de espera: 2h30.

"Eu não tenho mais idade para isso" - digo logo para a Camila. "Bora, tomar uma cerveja no caminho?" - ela propõe. É lógico que sim. E partimos em direção à minha casa, descemos a Angélica a pé. Compramos vinho do Pão de Açúcar 24horas.

Mas a chave - putz! ficou na bolsa, no carro da Ju. Táxi até a Ju. Pega bolsa, pega mala. Táxi até em casa de novo. Ufa! (hahahahaha "que mico, hein?" - a gente pensou). Abro a bolsa e cadê a chave?

Nada de chave.

Na portaria, nada de telefone de chaveiro.

(Fala sério!)

Ligo para o 102. Ligo para um 0800. Ligo para o celular do chaveiro.

(Tá cansada de ler? Tá cansado de ler? Imagina a gente naquele momento... Pega seu cansaço e eleva a uma potência de dois dígitos...)

120 reais. Puta merda! 120 reais é a diária de um hotel.

Telefonamos para um amigo que acabara de virar pai.

(Ninguém conseguiu ter piedade dele. A gente só queria um lugar para dormir)

Dormimos lá.

E até agora, já voltei à minha mesa de trabalho na esperança de ter esquecido a chave aqui. Revirei as coisas. Perguntei em todos os lugares em que passei.

Nada de chave.

Consegui um chaveiro que faz o serviço por 70 contos. É esse mesmo.

Qual será a moral dessa história?

Comentários

Cristiana Soares disse…
Hahahahahaha!

Essa história é amoral.
Euaqui disse…
Você ri?
Foi trágico, foi trágico.
Mas bastante simbólico não ter ficado em casa no finde do níver da Caroleta em que ela não ficaria comigo...

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