Quando todo mundo tá certo, ninguém está

Confronto na USP. Repressão com bombas de "efeito moral", balas de borracha na galera manifestante. Gritos de "Fora, PM", "Filhos da puta", "Sai daqui, coxinha". Ninguém gostou do que viu - ao vivo- pela TV. Quer dizer, me disseram que os seguranças da USP riam solto na sede da reitoria. Talvez alguns policiais tenham se orgulhado do ataque organizado sobre os estudantes que estavam em maior número. E é certo que em alguma roda de amigos, manifestantes se pavonearam do enfrentamento. Gente idiota existe em tudo que é canto.

O movimento está certo: funcionários se mobilizam por melhoria salarial, querem o direito de protestar, pedem mais uma vez eleições para reitor.

A reitoria da USP está certa: quer garantir o direito de ir-e-vir dos funcionários que desejam trabalhar, quer assegurar a integridade física da reitoria e evitar outra ocupação de 50 dias como aconteceu em 2007.

Confronto na USP: quem começou? "Eles começaram a atirar", dizem os estudantes. "Eles cercaram um grupo de PMs", diz o coronel responsável pela operação.

A verdade é que, passados alguns dias do confronto com a PM, eu começo a procurar um posicionamento. Não, gente, não está certo destruir a reitoria. Não, não está certo que a presença do EStado para manter a ordem seja a promotora da violência.

Se com os fatos não possível brigar, é hora de olhar além dos fatos para o que está acontecendo na USP. Aquele movimento sindical que se tem lá - por favor - dá uma certa vergonha alheia. E a administração da universidade - sejamos francos - também não tem conevncido ninguém.

O fato é, que nesse jogo de poderes, a reitoria e o Estado não têm o direito de "perder a cabeça", de agir como se os seus ato nãos tivessem consequências para além da burocracia. Porque formalmente, a reitora está correta em garantir a segurança da administração da USP. E, se o meio legal de garantir essa integridade for chamar a polícia... Formalmente, quem irá dizer que não?

Formalmente, a reitora está coberta de razão. Mas a reitora não tem tempo de casa suficiente para compreender que a USP exige mais que formalidades?

A USP é a mais importante insituição de ensino e pesquisa do país, modelo para outras universidade latino-americanas. Ela tem perdido certo espaço em termos de mídia e até de prestígio no senso comum que a considera uma instituição arrogante e descolada da realidade. Isso não fez com que a USP perdesse de todo a sua aura.

Colocar a polícia dentro do campus tem um outro peso, dona reitora. Remete a tempos duros que ninguém quer ver voltar. Mexe no imaginário da esquerda da esquerda que combate sua gestão, incitando os ânimos para além da formalidade e da sua burocracia.

Pior que chamar a polícia é mantê-la dentro da USP. Vi pela TV, com imagens de um helicóptero da Globo, alguém com um terno (imagino ser um professor) tentar diálogo com o comandante da operação em 9 de junho. Mal eles conversavam, uma bomba de "efeito moral" caía ao lado do mediador. Depois, chegaram em minha caixa de e-mails relatos de diversos professores que disseram ter tentado o diálogo. E que foram todos afastados com as tais bombas.

Chego finalmente a uma conclusão. É preciso, sim, mudar a criatura que comanda a USP. Em primeiro lugar porque ela não podemos dizer quei que a decisão de colocar a PM lá dentro foi acertada. Burocraticamente falando, inclusive. Houve dano material e moral para a universidade. Se era para cumprir burocraticamente o papel de gestora, ela poderia ter recebido os funcionários e professores para negociar o salário e seguir dizendo não às reivindicações deles. Dá a sensaçao de que a professora quis terceirizar seu trabalho, como quem diz "a PM dá um jeito neles", como se os manifestantes pudessem ser simplesmente varridos para debaixo do tapete.

POliticamente, essa senhora também não pode ocupar o cargo. Me parece que, aos 75 anos, a Universidade de São Paulo precisa se reiventar. E isso precisar ser um ato conjunto. A USP precisa de uma líder, não de alguém que "sabe" cumprir as formalidades a contento.

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