Eugenio e o tempo

Nesse medo do mergulho para que me preparo, começo o post com: "OMG, o tempo não existe mais!". E você pode me responder: "é mesmo, ninguém tem mais tempo para nada". Conversa rasa, com com uma expressão adolescente para provar que o tempo não chegou pra mim -- ou que, se chegou, eu o acompanhei até aqui, que não fiquei para trás.

De certa forma, isso tudo se relaciona com o que estou tentando escrever - querendo um registro, um fórum, uma instância (we <3 eugenio) para transbordar os pensamentos (muitos sem o menor nexo) que me invadem e me dominam.

Voltemos. O tempo -- essa construção -- acabou. A história, apesar de Fukuyama e da Era Bush, parece que não. Vamos combinar que ninguém vai para uma aula, na quinta de noite, depois de um dia puxado de trabalho e pensa que vai "descobrir" algo que ai calar tão fundo no coração. Veja bem, estou falando dos meus sentimentos, não da minha concepção de mundo. Acho que vou guardar essa frase, para analisar depois -- e terei de me lembrar de correlacionar com essa mania que eu tenho de colocar tudo em compartimentos e desse mundo sem fronteiras [físicas e conceituais] em que vivemos.

Foi essa a revelação da noite, na aula no 2º andar do CCA. O tempo, tal qual o conhecemos, como imutável, como grandeza sobre a qual navegamos e com a qual medimos nossas existências e em que penduramos nossas realizações, não existe. A concepção de tempo em que nascemos está superada. Ela não dá mais conta de medir nossas relações com o modus producenti [eu sei quase nada de latim, deve estar errado isso aqui].

Qual é o tamanho de uma hora de consulta? De análise? Qual é o tempo de uma aula? É possível medir o tempo do aprendizado? E enquanto Eugenio dizia isso, eu pensava que esta semana, o MEC decidiu justamente ampliar o número de tempo do aluno na escola -- porque se aumentarmos o ano letivo em 20 dias, os estudantes podem aprender até 44% a mais. E como gestores podem tomar decisões sem métricas e medidas? Se estamos, como sociedade, a essa distância de compreender as verdadeiras implicações no desenvolvimento das tecnologias da informação, como pretendemos produzir um mundo de acordo com seu tempo? Pense numa pessoa com crise de paradigma. Agora, acrescente uma dose de urgência e desesperança a ela. Fez isso? Multiplique por alguns e terá a minha mente enquanto eu voltava para casa.

E, numa sintonia com essas ideias de simultaneidade [ou seria simplesmente essas que estão traduzindo o modus vivendi atual?], eu assistia à aula enquanto minha filha relatava um ataque alérgico do irmão mais novo.

E as ideias borbulhavam. Podemos ser "confinados" a trabalhar jornadas medidas pelo número de horas?  Não mais, né, minha gente. Quando e quanto é o tempo de lazer? O relógio virou uma tecnologia obsoleta -- o patrão não "rouba" mais uns minutos no ponto, nem precisa porque ele comprou nossa alma e não mais nossas horas de produção. Tudo muito bonito, mas e agora? Vamos parar de medir? Se for assim, como remunerar, como dar valor?

A cabeça chega a doer. É tapar o nariz, criar coragem e pular.

PS: o quadro é do Salvador Dali e se chama "A Persistência da Memória". Achei que ficava bem remeter à memória [instância da imagem ao vivo do passado sentimental?] e ilustrar o post com a decrepitude dos relógios [apesar de esse estado líquido, Bauman que me perdoe o uso intencional desse adjetivo aqui, não querer dizer exatamente o que eu quero representa].

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