Julgamento televisionado -- mãe "abandona" crianças e Conselho Tutelar a "defende"

Na semana passada, um telefonema de um menino de 11 ou 12 anos para a polícia ganhou minutos na TV, páginas de jornal e links na internet. A gravação da conversa entre o pré-adolescente e um atendente virou "notícia".

O garoto é articulado. Fala em "ela me bate", diz que a mãe provoca "lesões" nele. A PM foi até a casa, liberou as crianças e as levou para a delegacia, até o pai aparecer, dizer que "não sabia de nada". Um juiz mandou as crianças para um abrigo. Neste link, você pode ouvir também o áudio. Não era preciso acusar -- estava tudo subentendido.

Depois disso, conselheiros tutelares defenderam a mãe e disseram que a ligação poderia ter sido incentivada por vizinhos, que não se davam bem com a mãe das crianças. E a "culpa" recaiu sobre o juiz, que afastou as crianças da família.

Não dá para dizer que há alguém "certo" ou "errado".

É lógico que ninguém quer que um menino de 11 ou 12 anos seja "responsável" pelos irmãos menores de dois anos e cinco meses. Mas, o que é melhor? Ir para um abrigo?

A mãe, quando entrevistada, disse que não maltratava os filhos -- apenas batia, uma "coisa normal". Aí dividem-se as opiniões entre aqueles que defendem a Lei da Palmada e os que acham que "um tapinha não doi". De novo, como alguém vai querer julgar u´a pessoa que não se sabe como cresceu, que valores tem? Nem se sabe se ela soube se expressar direito...

Daí foi a vez de "julgar" o juiz, que mandou as crianças para um abrigo. A decisão foi drástica, mas eu,. no lugar dele, talvez temesse uma tragédia como a dos irmãos que foram assassinados pela madrasta e pelo pai em 2008 -- na época, o Conselho Tutelar considerou que era melhor os meninos voltarem para casa em vez de ficar no Abrigo.

A situação é tão complexa -- e a gente, da imprensa, ainda se julga no papel de relatar os fatos. Simplesmente contar a história como se fosse o caso de descrever a bola ir e vir num jogo sem ganhadores.

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