Máquina de moer

Hoje, o rádio (um profeta da modernidade antiga, como é a minha) me deu The Wall de presente. Contei à mais velha que essa música talvez tenha sido um dos primeiros lampejos de crítica para a menina de 15 anos, besta, provinciana e matuta que eu era -- e, de certa forma, ainda sou.

Por ironia, a escola -- essa mesma, aparelho ideológico do Estado -- foi justamente o palco do nascimento de uma visão mais crítica do mundo. Em plena pós-modernidade no início dos anos 1990 (no interior, as coisas demoram mais a chegar), a turma do 1º ano mastigou e deglutiu o conceito da máquina de moer. E futilizamos a expressão "virar carne moída".

Sempre fui cumpridora de regras, amante das caixas, seguidora de verdades alheias. E, com isso, fui cuspida de uma das máquinas de moer como esperavam que eu saísse. Da cidade do interior para a USP (Universidade de São Paulo) onde minha mãe talvez esperasse que eu arrumasse um bom casamento ou um bom emprego. Acho que, na visão dela, falhei nas duas expectativas.

Mas a nova escola, a universidade, foi muito importante para uma espécie de libertação, de conscientização. Do deslumbramento com o campus à decepção com a falta de humanidade que sentia nos colegas. Do gosto bom de ter conseguido ao fel de ser apenas mais uma, e nem ser a melhor entre a massa de "mais um".

Tanta gente queria que a escola acabasse. Eu não. Quero a escola mais viva que nunca, melhor que nunca. Com todas as suas possibilidades: da iluminação intelectual, do embate de poderes, da resistência à violência, do campo dos primeiros afetos, da paixão pelo saber, do tédio da rotina.


Pink Floyd - Another Brick In The Wall por djoik

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