Sem título

Sempre começo os posts com os títulos. Em geral, eles são uma síntese do que nem sei que vou dizer. No caso, escrever.

Acabo de ouvir o chorinho lamentoso do bebê que se mudou para o apartamento ao lado. Lembro da Carol. Pequenina, chorona, indefesa. Nos meus braços. Uma menina criando outra. Apesar dos meus 20 e poucos anos, eu não era muito diferente da menina de 17 que tinha ido embora da cidade do interior, fugida da futilidade, do provincianismo e do sufoco de ser daquela família.

Eu lia um texto, do José Ruy Gandra, sobre a sua primeira separação (Um Duro Adeus, na Pais e Filhos). Sobre como ele, jovem, fhavia negligenciado o filho, em meio à sua própria imaturidade. De certa forma, identifiquei-me com ele. De outra forma, chorei a lágrima da moça ruiva.

Penso no cansaço. Na espiral maluca e, por que não dizer, autodestrutiva em que me enfiei. Lógico que não foi nada pensado. Mas a sensação que tenho, agora, é de que se eu corri até aqui foi para fugir. Me parece claro nesse momento em que meu corpo reclama. Corri esses anos todos para escapar -- não sei de que, nem muito menos para onde.

Não foi tudo apenas nebulosidade, eu sei. Carrego nas tintas porque sou dra-má-ti-ca.

Muito aconteceu nos últimos seis anos. Seis anos! Mudei muito, me tornei muito mais a pessoa que eu queria ser do que eu era. Fiz escolhas de todo tipo. Mas uma delas, aquela que eu julgava mais segura, mais acertada foi a que doeu mais. Optei, mais uma vez e sem perceber, abrir mão de mim mesma.

Talvez o meu rigor, mais uma vez, esteja se aproveitando do meu momento de fragilidade para pisar e sapatear no meu orgulho. O orgulho não passa de um menino metido e inseguro -- quando abre um flanco, babau.

Na verdade, não abri mão de mim mesma. Não dos meus risos altos. Nem da minha brabeza recente. Nem do deboche. Abri mão da fêmea que eu sou -- que nem o propósito nobre (nobre?) de ser mãe em tempo e sentimento integrais conseguiria deter.

Pois bem, agora, ela tá cobrando a conta. Fera enjaulada em seus últimos suspiros. E eu não vou dar um tiro de misericórdia. sou capaz de paciência e regeneração. Ofegante, ela não quer carinhos. Não faz mal. Deixa-a quieta. Por enquanto. Seu dia de liberdade está por chegar.

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