Da relação repórter-editor: a volta do copy desk na internet

Tanto se falou da reintegração de posse da reitoria da USP (Universidade de São Paulo). Da falta de compreensão dos jornalistas, da truculência da PM, da animosidade dos estudantes manifestantes, da relação da imprensa com a questão e, até, do outfit dos rebeldes com seus rostos cobertos e roupas de grife.

Mas uma outra questão, talvez menor, chamou minha atenção. Não sei como fizeram em outras redações, mas na minha -- de internet -- foram necessárias duas criaturas para a transmissão das notícias em quase tempo real. Lembrei dos antigos tempos em que o repórter ia para a rua (olhar para relatar) e um redator (cujo texto era melhor) traduzia os fatos para o leitor. 

Pensei que parte do equilíbrio que alcançamos se deveu ao fato de quem estava olhando estar livre de ter que contar. E de que quem estava contando podia ter um distanciamento crítico dos acontecimentos. A pensar se -- em tempos do acontecendo, isso mesmo: no gerúndio -- não seria interessante voltarmos a praticar a antiga fórmula repórter + copydesk.

Acho que tivemos ganhos. Por exemplo, enquanto a repórter em campo simplesmente contava o que via, o que estava acontecendo. Eu, na redação, ouvia os relatos e pinçava novos lides. Um exemplo: além da inevitável "PM está retirando manifestantes da reitoria da USP", conseguimos fazer mais uma que dava um certo tom ao cenário de guerra que se armou (Até estudante com garrafa de vinagre é detida em reintegração de posse da reitoria da USP). 

Outro exemplo foi perceber, de dentro do escritório -- esse lugar quase pecaminoso para a apuração --, que a polícia havia dado acesso à imprensa depois de passar um tempo all alone dentro da reitoria. Aí, foi possível ter um pé atrás na hora de noticiar os achados da operação.

Ó o trecho:

No dia seguinte, o inevitável: "Estudantes da USP dizem não ter responsabilidades por depredação de prédio ocupado" -- vem aqui outro trecho:

"Os estudantes também negaram a existência dos coquetéis, que, segundo os policiais, foram encontrados durante a revista do local. "Certeza que esses possíveis coquetéis foram implantados, até porque não houve nenhuma decisão coletiva para uso desse ou de qualquer outro explosivo", enfatiza João Denardi Machado, 20, estudante de História, que confirma apenas a existência de fogos de artifício. "Uma medida que recorremos para a comunicação, caso houvesse a ação policial."

Edvaldo Faria, coordenador da Central de Flagrantes da 3ª Delegacia da Seccional Oeste, negou as acusações de que os estudantes estão sofrendo perseguição política."

Não quero entrar na discussão sobre a "verdade", se o material foi ou não implantado. Acho interessante pensar nessa forma de publicizar esse tipo de informação e acho que ter uma dupla trabalhando nas matérias ajuda a compor textos mais equilibrados no calor dos acontecimentos.

Interessante pensar que diante de tanta "modernidade", uma solução antiquada pode ajudar a reinventar o que eu aprendi como bom jornalismo.

#prontofalei



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